sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Perfil de Mário Sequeira: Retrato numa aguarela


O gosto pelas Belas Artes é uma alusão constante. Mário Sequeira, o homem da galeria a que dá o seu nome, descobre, ainda criança, o mundo sublime da criação artística, através das aguarelas que ele próprio pinta. A sua galeria, verdadeiro património estético, é um orgulho que se propõe dar a conhecer.

Em criança sonha e pinta. As aguarelas são a primeira alusão a um amante da arte. E se de arte se faz o homem, a figura de Mário Sequeira está nela revestida. Como uma tela gerada com o intuito de nunca se acabar, que se prolonga no tempo infinito, conferindo à própria vida esse sentido de criação permanente.
Nasce em Braga, a 20 de Julho de 1951, onde até hoje fixa residência. Tem uma infância feliz,na companhia dos pais e do irmão. Estuda no liceu Sá de Miranda até à ida para a Universidade, para o Porto. Ingressa no curso de medicina, sabendo que é no mundo da arte que reside a sua vontade. Ao fim de seis anos, regressa à cidade Natal, especializando-se em cardiologia, entre Braga, Porto e Bordéus. Opta por medicina, mediante uma sociedade conservadora que desvirtua o caminho de tão sublime opção estética, as Belas Artes. Não renegando a sua paixão, a arte é um prazer inato que nunca deixa de abraçar. Continua a pintar, aguarelas que vende ou que troca por móveis. É o amor que o inspira.

Acabada a especialização, monta, em Braga, a sua primeira galeria, a galeria "Forma", no edifício de S.Lázaro. Em 1994, transfere-a para uma quinta em Tibães, Braga, para os fundos da casa, outrora pertencente aos seus avós. Dá-lhe o nome de galeria Mário Sequeira, sendo nessa casa que actualmente reside. Em 2002, constrói nessa quinta um novo espaço. A cidade é palco de uma das mais belas galerias de arte contemporânea. "Quando me comecei a dedicar à arte foi por gosto, pelo verdadeiro sentimento. Foi o interesse estético que me moveu, não o comercial. O resultado está patente no reconhecimento deste espaço, desta obra de arte", revela.
Tem, com aquele espaço, uma forte ligação afectiva. A casa de família fora uma quinta agrícola, que Mário Sequeira transforma num esplêndido bosque, com a imponência das suas árvores e o tapete verde que circunda a galeria. "É um amante da arte, alegre e divertido. Sente-se muito bem nesta galeria, gosta muito dela. De facto, o espaço é maravilhoso", declara Francine Sampaio, funcionária da galeria.
Não obstante, sente necessidade de sair, de visitar outros países, outras culturas, que lhe asseguram um conhecimento permanente e global da realidade artística. Confessa um fascínio especial pelo Brasil.

Conhecer Mário Sequeira é, portanto, conhecer este universo de magnetismo e de revelação constante. É descobrir o homem que estende o seu amor às demandas da medicina, um amor estabilizado e maduro, de todo menos verdadeiro. Grande parte dos dias, divide-os entre o seu laboratório de cardiologia - já exerceu actividade no hospital de S.Marcos - e o escritório de arte, guarnecido de livros. Não reconhece um lugar comum entre a medicina e a arte: "Quando saio do consultório, quando dispo a bata branca sou outra pessoa".
De personalidade estável, diz-se um apaixonado: "Tenho de ter sempre uma motivação que me apaixone, uma motivação estética. A arte é qualquer coisa que uma pessoa vive e gosta, que admira e aprecia. A arte é criação. Os conceitos são muito abertos e subjectivos". Para Mário Sequeira, a relação humana é uma exaltação fundamental, de tal modo que com os artistas tem ligações de forte afectividade. É um princípio de valor que estabelece na base do companheirismo e do saber estar bem. Como o próprio nome indica- Mário Sequeira - o homem, a galeria e o artista são, na sua existência, indissociáveis.
Por: Leandra Vieira e Stéphane Pires